Monge, criminalizar a homofobia pode acabar com o humor na televisão? (Juliana Duarte)
Bela pergunta. O humor padrão na televisão brasileira por anos se sustentou na tríade “homossexual caricato – mulher bonita e burra – pobre que fala errado”, na melhor tradição dos personagens pitorescos de Chico Anysio, Jô Soares, A Praça É Nossa… Não que sejam necessariamente ruins e discriminatórias, mas são piadas que vão se tornando cada vez mais incômodas, quando não ficam batidas. O humor, como toda produção cultural, tende a evoluir, acompanhando as ideias do grupo no qual se manifesta.
Assim como as leis. A criminalização da homofobia bate à porta da sociedade, em um momento em que o respeito à diversidade finalmente atingiram parte do senso comum (não de todo, infelizmente, basta lembrar a fala de um conhecido deputado em um programa de humor da televisão…). Aliás, é um contexto curioso de se analisar. O próprio programa que apresentou e denunciou as barbaridades enunciadas pelo tal deputado também faz piadas de caráter duvidoso com relação à homossexualidade. Mesmo que não tenha a intenção de ofender ninguém, a caricatura do homossexual e as piadas de “desconfiança” com relação à sexualidade de alguém não seriam tão bem vistas se uma lei criminalizando a homofobia já existisse.
Tão perigoso e anacrônico quanto as bizarras manifestações de apoio à fala do tal deputado, é este pequeno preconceito que todo mundo carrega sem perceber.