Wall Street – O dinheiro nunca dorme
por Alexandre Carlomagno (alexyubari@yahoo.com.br)
Os yuppies e a geração Y. O filme de 1987 e este de 2010. O que realmente separa Wall Street: Poder e Cobiça de sua continuação, 23 anos depois, Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme, é o amor. Sim, o amor enquanto fio condutor de uma narrativa. No primeiro filme o foco era a ascensão de um indivíduo comum, já neste, o poder e a corrupção moral servem como pano de fundo para um romance.
A proeza técnica de um travelling vertical nos minutos iniciais mostra que a imponência dos prédios se intensificou e, no reflexo de suas estruturas espelhadas, o mesmo ocorre com a cobiça do homem: seus ternos de linha e os sapatos de ponta vestem, na verdade, intenções ambíguas que culminam sempre no próprio umbigo. Jake Moore (Shia LaBeouf) mantém uma relação amorosa com Winnie Gekko (Carey Mulligan), filha do outrora poderoso Gordon Gekko (Michael Douglas), então é de se perguntar: se Winnie nutre tamanho ódio pelo pai, por que se envolveu com um homem de Wall Street? Pois ela mesma diz não saber o que viu nele. O amor é irracional. Questão resolvida.
O que se desenrola a partir daí é uma enorme coreografia de interesses capitais cuja estratégia está em aplicar o melhor verniz que consiga esconder os reais propósitos de cada personagem. E aqui o acerto vem do roteiro escrito por Allan Loeb e Stephen Schiff (o primeiro responsável por Coisas Que Perdemos pelo Caminho, de 2007, e o outro pela refilmagem de Lolita, de 1997). A trama é um emaranhado muito bem costurado de um jogo cujos participantes e seus intentos nunca são transparentes. Bretton James (Josh Brolin) surge como um novo e mais maléfico Gordon Gekko, ao passo que este último aparece redimido, como se tivesse aprendido algo nos oito anos que passou preso. Mas nem tudo é o que parece, e a efemeridade dita regras ao lado da ganância.
Porém, mais do que um filme sobre a crise econômica (a história se passa em 2008), Wall Street: A “Vadia” do Dinheiro Nunca Dorme (como diz Gekko) é um filme sobre um amor improvável e o relacionamento problemático entre pai e filha. E aqui o roteiro erra. Até certo ponto, enquanto está mergulhado em meio à narrativa, funciona. Mas quando essa trama emerge completamente no terceiro ato o longa perde forças e resvala fortemente na banalidade. Mas graças à competência do diretor Oliver Stone e uma montagem esperta e desprendida da dupla David Brenner e Julie Monroe (presenças constantes nos filmes de Stone) o valor da ação não cai e o que nos sobra é algo interessante, divertido, instigante, no entanto, não tão pungente como seu antecessor.