No que eu estou pensando? (Alguém Curioso)
Bem, Sr. Curioso (que eu sei quem é pelo email que mandou a pergunta, mas vou manter o mistério), não tenho como saber no que você está pensando. Não fui agraciado com o dom da telepatia, tampouco da adivinhação. Posso apenas especular que o Sr. quis fazer uma pergunta capciosa, que pensou que o Monge não teria como responder. Estou certo? Se não estou, devo ter chegado perto.
Fico pensando como seria o mundo se a comunicação telepática fosse algo corriqueiro. Os sistemas de telefonia nunca teriam sido inventados, o próprio conceito da internet talvez não existisse. Sim, porque até as imagens e sons imaginados poderiam ser transmitidos diretamente para os outros. Imagine um cineasta que não precisa da câmera, dos atores nem de nada do set, apenas usa a imaginação para criar uma bela história e transmite-a diretamente para a cabeça de cada um de nós, seu público cativo. Ou um músico impregnando os pensamentos alheios com uma canção encantadora. Não teríamos mais os instrumentos, os sistemas de som. Nem os jornais, pois a notícia correria de mente em mente até chegar à sua. E não teríamos os programas de rádio, os livros, as cartas de amor, nem as artes plásticas. E nem os museus.
Em compensação, não teríamos mais guerras e conflitos. Tudo seria uma questão de entrar um lado na cabeça do outro, para entender a diferença dos pontos de vista sob todos os ângulos. E buscar uma solução viável para todo mundo. E assim, a nossa civilização teria se desenvolvido à margem das diferenças. As culturas iriam se fundir, e apenas as desigualdades físicas restariam. Mas já não fariam diferença porque, telepaticamente unidos, teríamos a convicção de que somos todos iguais. Um pensamento só, massificado.
Há uma boa razão para os telepatas reais não se manifestarem.