Por que tratamos os livros de auto-ajuda como “clássicos da atualidade”? Até por que não é uma ajuda a qual eu cheguei sozinha, tem um alguém que está me instruindo para chegar até ela… (Flávia Rossi)
Pois é, como dizia George Carlin, se foi outra pessoa que escreveu um livro que vai te ajudar, isso não é “auto ajuda”, é “ajuda” pura e simples. O conceito de “auto ajuda” soa então como uma grande contradição. Mas na verdade, esse é o menor dos problemas.
Em nossa querida sociedade contemporânea, soluções instantâneas para problemas de ordem prática são vendidos a torto e a direito. Assista meia hora de um canal de compras, por exemplo. Você vai encontrar soluções para problemas persistentes em sua vida, que você nem sabia que existiam! Como pudemos viver tanto tempo sem um processador multiuso? Ou sem uma escada que se transforma em bancada? Ora, o que faríamos sem uma caneta que escreve de ponta cabeça, ou sem uma engenhoca para fazer abdominais sem o mínimo esforço? Essa é a máxima do capitalismo de consumo: convença o público de que ele precisa do produto que você está vendendo.
O universo da auto ajuda, por sua vez, lida com problemáticas presentes na vida de quase todas as pessoas. Como educar bem os filhos, ou ter uma relação melhor com seus colegas de empresa. Como conciliar espiritualidade e materialismo, ou mesmo compreender nossa inevitável finitude. Se existe alguma coisa incomodando a sua vida, cuja solução não venha de algum produto milagroso vendido pela TV ou internet, pode ter certeza de que existe algum livro, filme ou palestra que virá atender aos seus anseios. Os autores geralmente são profissionais de áreas ilustres, de onde praticamente qualquer coisa que se fale será assimilada pelo público com um sorriso de gratidão. “Obrigado por partilhar conosco essa preciosa informação, senhor médico!” “Senhor psicólogo, o senhor entende mesmo do ser humano!” “Senhor empresário de sucesso, não tenho palavras para descrever minha alegria ao ler o seu livro! Espero seguir à risca todas as suas instruções, para que eu possa ser bem sucedido assim como o senhor!” Deu para pegar a ideia, não?
Outra coisa que incomoda ao Monge – um simples estudante de psicologia, que fique bem claro – é o fato que as teorias mirabolantes da auto ajuda tendem a colocar todo mundo no mesmo balaio, ignorando boa parte das experiências individuais de cada um (hum… este é um mal recorrente também em algumas teorias psicológicas, mas creio que não vem ao caso). Se funcionou para quem escreveu o livro, se é que realmente funcionou, pode dar certo para todos. E se não deu, a culpa não pode ser do autor. Ele só quis ajudar.