Monge, por que as músicas do Manu Chao são tão repetitivas (e mesmo assim tão boas)? (Bruno Reisler Rodrigues)
Pois é, Manu Chao esteve em Ribeirão, e o Monge não foi. Também não foi na apresentação do cantor na Virada Cultural Paulista, em Araraquara. Uma pena. Gosto de Manu Chao, um dos músicos mais originais e diversificados atualmente. Tudo bem que a única apresentação dele que já vi foi bem enfadonha, mas creio que todo artista passa por um momento de incompreensão em sua carreira. Mas convenhamos, foi no V Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Isto explica o porque dele deixar seus sucessos de lado para cantar músicas de protesto ao violão, ao lado de um músico uruguaio – ou paraguaio, não lembro direito– que muitas vezes era deixado sozinho no palco, entoando músicas próprias. No Fórum vale tudo. Inclusive o atraso de quase 5 horas do show do cantor francês. Faz parte.
Comecei a ouvir Manu Chao em 2001, época em que seu primeiro álbum solo – Clandestino – fazia o maior sucesso no Brasil. A internet apenas ensaiava seus primeiros passos como rede de compartilhamento musical absoluto (em outras palavras, era uma época quando ainda comprava-se CDs). Aos poucos fui descobrindo mais sobre sua história: sua nacionalidade (francês, quem diria), a influência punk, a turnê de barco pelo litoral latinoamericano com a banda anterior, a Mano Negra, e os anos de peregrinação solitária pela América Latina, coletando influências sonoras e gravando em diversas línguas. A canção Minha galera, por exemplo, dizem que foi feita com as primeiras palavras que Manu Chao aprendeu em português.
Outra curiosidade sobre o músico é a repetitividade das suas canções, notada facilmente quando se ouve seus álbuns. A questão não é que uma música tal é parecida com a outra: elas são praticamente a mesma música. A mesma base, a mesma gravação, mudando apenas o vocal e a letra. Exempo prático: as canções Bongo Bong e Je Ne T´aime Plus, do álbum Clandestino, e Mr. Bobby e Homens, do seu segundo álbum Proxima Estacion: Esperanza. As quatro canções são a mesma música. Pode conferir.
Em outras vezes ele repete a letra em mais de uma canção, mudando a harmonia e o ritmo. Falta de criatividade? Picaretagem? O Monge pensa que na verdade o francês gosta de fazer auto-referência. Ajuda na identificação por parte do público. Ou então, sob uma ótica mais simples, ele acha um desperdício usar uma levada ou uma letra em apenas uma canção. Liberdade artística é isso aí.