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Monge, por que a corrupção no Brasil anda tão alarmante? (Fábio Alves)
Anda mesmo? Eu nem havia percebido. Tudo parece estar tão bem! Ainda mais em ano eleitoral. Todo político sai às ruas com aquela cara de que soltou pum mas não foi ele. Há sempre muito o que fazer! Inaugurar obra pela metade, viajar muito, dar entrevistas mil. É necessário fazer muito barulho para abafar os gritos daqueles que querem tirar sua dignidade, acusando-o de corrupto, resgatando os processos e as provas existentes contra ele. Oposição, sabe como é. Fazem qualquer coisa.
E neste ano, particularmente, a coisa anda difícil. Enchentes, desabamentos e um monte de gente desabrigada. Manifestantes, grevistas e a população indignada. Bando de desocupados, o que estão pensando? Não tem que trabalhar não? Chegaram ao cúmulo de meter o bedelho no processo eleitoral, exigindo a aprovação da Lei da Ficha Limpa. Tão sonhadores! Se uma lei dessas pega, não sobra quase nada dos candidatos. Tanta gente boa que não vai poder se eleger, só porque dizem que ele desviou alguns milhões dos cofres públicos! Essa gente não entende nada, esses que querem uma política “limpa” e “honesta”. O que eles chamam de “corrupção” nada mais é do que uma remanescência histórica, do tempo das caravelas. Para cuidar de uma terra tão grande e diversificada quanto a nossa, são necessários alguns sacrifícios. Trocas de favores, acordos obscuros, movimentos por baixo do pano. E já que se está nessa levada, o que custa pegar um tanto desse monte de dinheiro que é movimentado pelo poder público? Ninguém nota a diferença, nem mesmo com a nota na mão. É o mínimo de benefício que um bom político – não o político honesto, mas o político que sabe como a coisa funciona – deve poder usufruir.
Ironias à parte, o Monge acredita que este é o pensamento padrão de boa parte da “elite política” deste país. Não falo somente daqueles que adquirem cargos e fazem disso uma carreira, mas de muita gente que acompanha os bastidores políticos, mesmo que à distância. Porém, o povo não é bobo. Este é um bordão antigo, mas há quem ainda pense que é fajuto. Que é só jogar migalhas de pão e de diversão que ninguém vai se importar com as migalhas de segurança, habitação e educação que são dispensadas à população. E isto só para falar dos aspectos mais básicos da atuação pública. Enquanto isso, o resto do bolo fica para eles e para os seus amigos abastados. O que era para ser obrigação torna-se exceção. Porque nos surpreendemos tanto quando nos deparamos com alguma ação política que deu certo, que atendeu aos interesses daqueles que elegeram seus representantes? Porque a corrupção só aparece em destaque na mídia quando há alguém que se beneficia com a derrubada do outro? Dá a impressão de ser tudo um grande jogo, onde além de não explicarem as regras, as cartas estão marcadas. A banca de apostas, então, nem se fala.