Lá estava Khaled em um ônibus viajando de Marrakech para Rabat quando uma turista loira gritou “Socorram-me subi no onibus em Marrocos”. Isso foi o gatilho que Khaled, filho de Hassan precisava para refletir sobre a miserabilidade da sua vida.
Vendo aquele mar de grãos de areia, o representante comercial de carnes exóticas (do tipo kebab) pensou até onde iria a subjetividade da existência da areia. Aquilo era areia ou uma população densa de pequeninos grãos que um dia foram gigantes rochas?
Khaled pensou o quão grande ele já foi. Já fora igual a rocha vulcânica que dominou o mundo bilhões de anos atrás, mas chorou quando percebeu o ponto que chegou: ouvir turistas loiras cinquentonas e gordas gritando palíndromos* (para quem não entendeu, leia “Socorram-me subi no onibus em Marrocos” da direita para a esquerda).
Eis que o sentido da vida nunca foi mais claro: o Universo nada mais é que um palíndromo. “A droga da gorda” (leia isso no sentido contrário também) acabara por ser todo o sentido da existência. Do pó viemos, para o pó voltaremos. Eis então, que Khaled enconstou a cabeça no banco do ônibus, começou a cochilar e sonhou com o excesso de palavras no cinema mudo…
*Palindromo: diz-se de palavra, frase ou verso que podem ser lidos da esquerda para a direita ou vice-versa, sem modificação de significado ou sentido
Épico.
Penso no que poderia ter feito você escrever isso.. achei único, e gosto do que é único.
Muito bom, Gotardo.
As vezes me sinto insultado pelos seus textos, quando eles têm explicações como o que é um palindromo.
Isso mata a curiosidade e vontade de aprender, que faria uma pessoa procurar o significado da palavra (ou me faz, enquanto leitor, achar que vc me acha um boçal).