Sá, Rodrix e Guarabyra também devem ter passado por isso. Violão em punho, uma pequena platéia composta em sua maioria de amigos, cordas dedilhadas em busca de uma música que anime e seja reconhecida pela maioria, que cantem junto o refrão ou pelo menos arrisquem cantarolar a melodia. Mas tudo que vem na memória são as músicas desconhecidas do Caetano, as mais tristes baladas de Chico Buarque e uma saraivada de rock rural dos anos 70. Sem falar na variedade de músicas incompletas, harmonias desconhecidas e colagem de letras inverossímeis, um apanhado de sons que se confundem e fazem o cantor sentir-se uma calopsita que mistura “Atirei o Pau no Gato” com o hino do Botafogo.
A música é uma arte em constante expansão. Desde que o mundo é mundo o ser humano vive e respira as melodias ao seu redor, fazendo-o querer reproduzi-las e criar as suas próprias. Mas não somos todos músicos por natureza, e é fato visível que alguns possuem mais talento do que outros. E geralmente destacam-se de tal forma que não há caminho mais óbvio na escolha da profissão. Mas fora estes e aqueles incrivelmente desafinados (e sem ritmo), há uma quantidade considerável de pessoas comuns que gostam de soltar a voz e brincar com algum instrumento. Podem não criar seus próprios sons, mas sabem de cor as suas canções favoritas.
De cor? Às vezes parece que o peso do violão suga completamente a memória musical, a ponto de não lembrarmos nem mesmo da existência de uma canção que passou o dia inteiro pela cabeça. Como é mesmo aquela do Rappa? E Djavan, eu sei alguma? Se eu tocar Luiz Melodia, o pessoal vai gostar? A memória, ao invés de seletiva, torna-se aleatória.
E não mais que de repente, vem na lembrança os acordes de uma música do Calypso. É hora de passar o violão para o amigo mais próximo.