“Carnaval, Carnaval, Carnaval, eu fico triste quando chega o Carnaval…” Da minha geração, todos sabemos que estes versos são de Luiz Melodia, mas apenas porque Sérgio Britto nos esclarece do fato após cantarolá-los no álbum MTV Acústico Titãs, de 1997. Eu mesmo, um fã declarado do autor de “Estácio, Eu e Você”, ainda desconheço a canção original, chamada “Quando o Carnaval Chegou”, mesmo com todas as possibilidades que a internet oferece para os garimpeiros musicais.
Pois é, o Carnaval chegou e passou, como todos os anos, e talvez agora dê para dizer que o Brasil entrou em sua funcionalidade plena. Se isto também implica na libertação daqueles que passaram o feriado com fantasia listrada, lá pelas bandas do Planalto Central, não saberia dizer. Se acontecer, será uma ação repudiada por uma imensa parcela do povo brasileiro, mas não será algo inesperado. Há quem pense que no país é Carnaval durante todo o ano, tratando a todos como se estes estivessem fantasiados de palhaços.
Já estamos na Quarta-feira de Cinzas, que deve ter sido sabiamente nomeada devido ao gosto na boca com o qual alguns foliões permanecem o dia inteiro. É dia também de apuração do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, o mais badalado dos eventos carnavalescos. Dia de festa para uns e tristeza para outros, de comemoração em algumas comunidades e injúria coletiva em outras. Mas só por algum tempo, pois o ano segue adiante, e a proporção entre o luto e a festividade volta ser mais ou menos a mesma em todas as comunidades. O luto, tristemente, ocorrendo com frequência cada vez maior.
Mas é Carnaval! Ou melhor, foi Carnaval. Confetes, serpentinas e foliões adormecidos ainda estavam espalhados pelas ruas e salões esta manhã. Os amores de Carnaval, que durante a folia conduzem a dança dos Pierrôs, Colombinas e Arlequins, estarão acabados ou completamente consolidados nesta quarta-feira. Enquanto isso eu permaneço em casa, na ressaca de um Carnaval que eu não pulei.