Um assunto atormentou minha cabeça neste último domingo (7) ao ponto de atrasar meu sono: a criogenia! Quer dizer então que pela “bagatela” de 352 mil dólares (apenas duas empresas no mundo realizam o “possível pseudo-funeral”, e elas são americanas) eu posso congelar meu corpo e esperar que um dia eles consigam inventar uma maneira de me ressuscitar? Especulava-se que o corpo de Walt Disney estaria entre os picolés de osso e pele, mas tal ideia foi descartada pelo presidente de uma das empresas. Mas já imaginou se ele estivesse congelado? Ou melhor, já imaginou se o descongelassem hoje? O que será que o criador de clássicos como A Branca de Neve e Dumbo acharia dos desenhos realizados hoje no Japão? Ou ainda, o que ele acharia dos rumos que sua empresa tomou, com desenhos animados em 3D que jogaram o 2D a escanteio, e a primeira protagonista negra de um de seus desenhos? Será que hoje, com a força avassaladora com a qual a mídia ataca as celebridades nós descobriríamos um lado racista no criador do Mickey? Ele está jantando – afinal, após uma soneca de 44 anos ele estaria com fome – e um paparazzi disfarçado de garçom consegue gravar uma conversa sua, em que diz ser inadmissível tal cor em um desenho da Disney! Quais seriam as reações de Walt Disney defronte a mídia sensacionalista que cercam os diversos famosos de hoje em dia?
O fato é que a população sempre alimentou uma vontade de conhecer o íntimo dos artistas, desde a invenção do jornalismo. A diferença é que antes o artista resguardava certa privacidade, por parte, devido a falta de tecnologia nas mãos dos jornalistas, sendo que hoje eles são filmados em pleno coito dentro do mar e no minuto seguinte são vistos por milhões de pessoas através da internet. A mídia matou o astro! No começo do século passado, atores como Charles Chaplin, Clark Gable, Greta Garbo, James Stewart, Grace Kelly, Jean Arthur e tantos outros não recebiam a alcunha de astros e estrelas à toa. Quando um personagem transitava por entre cortes, closes e fade out naquela gigantesca tela, onde suas imagens eram projetadas, a fascinação causada no indivíduo que assistia minúsculo em sua cadeira era tamanha que transgredir tal barreira imposta pelo cinema era possível apenas através da imaginação. Em outras palavras, a imagem gigantesca que dança pelas luzes do projetor era a maior referência que a população majoritária tinha sobre seu ator ou sua atriz; era algo inalcançável, intocável. Sim, por causa da mídia foi possível descobrir que Chaplin e Carlitos não dividiam a mesma índole. Mas parte da magia intrínseca ao cinema está no não dito, em nossas mentes, na imaginação. Uma coisa é a mídia querer enxergar, outra é querer usufruir das celebridades. A mídia desconstrói e destrói corpos astrais assim como os concebe – visto as “Lindsays Lohans” bastardas que perambulam pelo cinema – e no final, acredito eu, o Walt Disney descongelado provavelmente descarregaria uma pistola em sua cabeça, sem o menor medo de ser feliz.
por Alexandre Carlomagno (alexyubari@yahoo.com.br)
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