jan 202010
 

(publicada originalmente na edição 3 – maio de 2009 – primeira quinzena)

Imagine-se no Rio de Janeiro no final da década de 50. Éder Jofre firmava-se no boxe, a disputa de Miss Brasil lembrava final de Copa do Mundo e Juscelino Kubitschek comandava o país. O Rio não era só glamour. Haviam enchentes e vários incêndios pela cidade. Eram tantos que a Rádio Continental era especialista em cobrir tais sinistros.
Uma diferença que existia à época era a cobertura dos fatos. Hoje em dia a espetacularização da mídia provoca “safras de crimes”. Eles ocorrem diariamente e de todos os tipos. Mas o que vale hoje em dia é a audiência e seu “crime da moda”.
Naquele Rio de Janeiro e todo seu contexto histórico surge um desses acontecimentos que entram para a história pelos ingredientes trágicos que o temperam.
Numa época em que o punguista (batedor de carteira) era o bandido temido, foi executado um crime passional que comoveu o País. Paixão, rejeição, ciúmes, traição, frieza e a paciência em atingir um objetivo. “Fera da Penha”, como ficou conhecida Neyde Maria Lopes, matou com cruel requinte a filha de seu amante Antônio, motorista de caminhão casado com Dona Nilza e pai da pequena Tânia, vítima de seu deslize conjugal.
Saulo, com perícia e sagacidade, chegou à dona Nilza e posteriormente a Antônio antes da polícia. Aberta a informação para o delegado, obteve preferência na cobertura. Permaneceu dentro da delegacia para onde fora levada Neyde na condição de testemunha pelo contato que havia feito com o casal. Apesar dos protestos de quem ficara de fora e não pode presenciar o depoimento de perto.
Após uma espera de mais de 12 horas de depoimento, havia quem pedisse um “tratamento” especial para que a Fera confessasse.  Não precisou. Saulo teve a chance de conversar com Neide, à sós. Bastaram alguns minutos e a “Fera” morreu pela boca.

Saulo Gomes, 81 anos, repórter investigativo. Há mais de meio século cobrindo a história do Brasil.

  One Response to ““Quando a Fera morre pela boca””

  1. Trata-se apenas de um mestre em artes jornalisticas, quanto ao dom investigativo, com seu longo tempo de atividades e de bons exemplos honestos e fiéis ‘a verdade, o transformou nesta fera dos furos em geral…

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