(publicada originalmente na edição 1 – abril de 2009 – primeira quinzena)
Deve ser algum tipo de praga o que ocorre na sociedade. Impossível entender como chegamos ao ponto da desesperança com os representantes eleitos levar ao completo abandono de ação. O que se assiste é um festival de acontecimentos dantescos (irônica semelhança!) servindo de pano de fundo para o continuísmo de tudo que aí está.
Imagine-se em uma situação em que o bandido não pode ser preso após um assalto porque o estabelecimento não colocou o aviso obrigatório de que o ambiente é filmado. Ou o motorista não ser multado ao trafegar a 160km/h simplesmente por não haver sinalização da existência de radar! Ora, o assalto e a direção perigosa desaparecem nos argumentos burocráticos? A sensação que fica é que a legislação é propositalmente redigida para favorecer ladrões, na maioria das vezes, seus formuladores.
Um senador declarou na revista de maior circulação nacional que seu partido é corrupto. Sobe ao púlpito (lugar alto, de onde fala um orador; tribuna) do Senado e fala sobre as mesmas denúncias. Ele é obrigado por lei a apresentar as provas de suas acusações. Sob o risco de prevaricar (crime cometido por funcionário público quando, indevidamente, este retarda ou deixa de praticar ato de ofício, ou pratica-o contra disposição legal expressa, visando satisfazer interesse pessoal), e pode ser punido com a cassação de seu mandato. O que fica no ar é a pergunta do por que a revista não o cobra por isso. E os demais colegas de partido? Por que não fazem nada? Teriam assinado atestado de culpa? Nota repudiando a atitude não satisfaria pessoas corretas, sérias e de caráter.
Fazem o mesmo agora com os indícios de corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e toda sorte de crimes contra o Estado que recaem sobre a maioria do poder público federal constituído. Seja situação ou oposição (será que isso existe no Brasil?). A grande mídia e os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário usam a mesma desculpa. As gravações são ilegais. Mas e os crimes comprovados? As gravações são ilegais. Mas e as relações íntimas entre o banqueiro, o ex e o atual presidente do País e seus partidos? As gravações são ilegais. E as facilidades que o banqueiro disse ter no Supremo Tribunal Federal que lhe deram dois habeas corpus em 48 horas? As gravações são ilegais…
Difícil levá-los a sério. A lei que proíbe pessoas condenadas em processos judiciais de se candidatarem fornece prazos e recursos sem fim para que a condenação nunca saia. Se fosse seguir ao pé da letra, a moralização do Congresso viria a passos largos. Tentaram isso na última eleição, mas de acordo em acordo eles ficam no papo…
PNO. Por que político não trabalha das 8 as 18, de segunda a sexta?
Marcelo Dias