jan 282010
 

Falou-se pela primeira vez no termo web 3.0 em um artigo do New York Times escrito por John Markoff em 12 de novembro de 2006. Mas quando isso será realidade? O que há nos dias de hoje?

Há um consenso hoje em dia de que vivemos na era da web 2.0, a famosa web colaborativa onde você deixa de ser apenas receptor de conteúdo e se torna um dos agentes colaborativos. Cinco anos atrás era difícil pensar que hoje existiria um site da magnitude e abrangência do Youtube, onde qualquer um que tiver acesso a Internet pode ter seu próprio canal de vídeos sem pagar um único centavo. Se tal ideia tivesse sido discutida na sociedade, jamais teria dado certo. É mais ou menos o que acontece hoje com o famigerado “ranking dos direitos humanos”. Qualquer coisa, que de alguma forma, abale as estruturas das corporações (que também são donas dos veículos jornalísticos), é logo escrachada nos noticiários. Imagine uma instituição divulgando nota dizendo que considera a(s) novela(s) das oito e os reality shows como violações aos valores humanos. Agora voltando ao Youtube, imagina você sair por aí querendo discutir um site de vídeos onde todos pudessem colaborar. Qualquer um viraria pó.

Primeiro: Uma ferramenta audiovisual e colaborativa é o topo da lista de coisas que um canal de televisão não queira que exista. A TV perde toda sua função profética-manipuladora de dizer o que é ou o que não é bom para você e para mim. Hoje chegamos a um ponto onde posso mandar um email para Noam Chomsky fazendo uma pergunta sobre certos termos de linguagem usados na mídia e ser respondido em menos de 24 horas (mesmo que com isso um artigo inteiro vá para a lata do lixo). Enfim entendemos o que Edward Murrow disse em 1958 em seu discurso a profissionais da mídia estadunidense (o melhor discurso que já li na vida por sinal) que “o fato de suas vozes serem amplificadas ao ponto de atingirem de uma costa a outra do país não lhes confere maior sabedoria ou compreensão do que vocês possuíam quando elas atingiam apenas de um lado a outro de um bar”. Isso é a web 2.0! Um fora de série já deu as cartas no meio do século passado, só hoje fomos descobrir o que ele queria dizer. O emissor não é mais que o receptor.

Mas e a 3.0? O que é? Correntes conservadoras acreditam que a utilização de widgets e a integração de interfaces de programação seja o futuro. Já “este que vos escreve” (gosto desse termo, parece que me confere mais conhecimento do que quando falo de um canto para o outro de um bar!), acredita na corrente mais simplista de que a web só poderá ser 3.0 quando a qualidade e a velocidade não forem mais preocupações. Igual água e eletricidade. Quando vamos tomar banho ou acender uma luz, pensamos mais na natureza do que na possibilidade de receber ou não o serviço. Se isso acontecer com a internet, ela deixar de existir como preocupação e você pode ter o que quiser e quando quiser ao toque do clique, daí sim ela poderá ser considerada 3.0.

O velho Diederichsen

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jan 282010
 

Reportagem em pdf (clique aqui para baixar/visualizar – 626kb)

(publicada originalmente na edição 10 – setembro de 2009 – primeira quinzena)

1936 - 2009

Assim o empresário Antônio era conhecido. Hoje o edifício que leva seu nome é a casa do Inconfidência Ribeirão. O principal símbolo de progresso da cidade carrega parte de sua história, que poucos contemporâneos conhecem.

Ribeirão já era conhecida pelo título de “Capital do Novo Oeste” no século XIX (por representar o progresso e a modernização, algo que relegou a Campinas a insígnia de “Capital do Velho Oeste”). Portanto, não seria o primeiro prédio multifuncional do interior do Brasil que causaria espanto em plena década de 1930. O espírito retribuidor de Antônio Diederichsen (que fez muita riqueza por aqui) tornou possível o pioneirismo da cidade em 22 de setembro de 1934. Eis que em 20 de dezembro de 1936, após dois anos e meio de obras, é inaugurado oficialmente o Edifício Antônio Diederichsen (nomeado de “Palacete Diederichsen” pelos que prestigiaram a inauguração), localizado à Rua Álvares Cabral, 469, logo adiante ao famoso Quarteirão Paulista.

Projetado pelos engenheiros e “architectos” Antonio Terreri e Paschoal de Vicenzo, o prédio possui até hoje em seu térreo, primeiro e segundo andares, salas destinadas ao comércio ou prestação de serviços. Diferente dos dias atuais, da inauguração até o final da década de 1970, boa parte das salas eram consultórios médicos e odontológicos devido ao status social que o local representava. Os andares três e quatro representam até hoje dormitórios de moradia fixa, o quinto e o sexto eram o conjunto que comportava o “Grand Hotel”, formando assim, o primeiro edifício multifuncional do interior do Brasil. Especificamente no quinto andar, de início funcionava o restaurante do hotel. Segundo relatos de frequentadores antigos do prédio, até circo já se fez no sexto andar.

Segundo o Arquiteto e Urbanista Cláudio Baúso, a arquitetura do edifício segue um visual Art déco (estilo arquitetônico onde as fachadas têm rigor geométrico e ritmo linear, com fortes elementos decorativos em materiais nobres), em seu exterior, o prédio possui uma porção de dolomita moída adicionada ao cimento da parede, para assim brilhar com a luz radiante do sol que pouco se ausenta em Ribeirão Preto.

Junto com o “Palace Hotel” (aquele ao lado do Theatro Pedro II, na esquina com a Rua Duque de Caxias), o “Grande Hotel” era dos mais cobiçados e prestigiados hotéis da cidade nos dois primeiros terços do século XX. Dentre vários nomes importantes, o “Grande” já abrigou figuras como Adhemar de Barros (ex-governador de São Paulo) e Getúlio Vargas.

Antônio Diederichsen, como um de seus últimos gestos que confirmaram um espírito cívico ímpar, deixou a direção do prédio nas mãos da Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto, que até hoje mantém a governança do local.

Da janela do Dr. Gabarra

Sala 230. Sessenta e três anos de história para contar. Darcy Gabarra, 86 anos, cirurgião dentista especialista em prótese, viu da janela de seu consultório a história de Ribeirão Preto ser moldada. Desde os tempos de faculdade na década de 1940, quando cursou odontologia na Faculdade de Farmácia e Odontologia de Ribeirão Preto e tinha cinco irmãos dentistas trabalhando no Diederichsen (cada um com uma sala própria), o Dr. Gabarra já os ajudava na montagem das próteses (área em que mais tarde ele seria uma referência acadêmica e profissional).

Da janela da sala 230 (que viria a se tornar dele pouco tempo depois), Gabarra relata: “Na época em que comecei aqui [1947], era um sossego só. Como eram só médicos e dentistas, o silêncio imperava. Praticamente não existiam carros e esse mundo de pessoas lá fora. Não havia toda essa gritaria, helicópteros, buzinas, anúncios falados em megafones, etc.”

O que consideramos o avanço da civilização, de fato não fez bem a esse sênior da odontologia. Hoje, onde há somente paredes e concretos, já foi uma vista bem mais a aprazível. “Aqui podia se ver a Vila Tibério inteira. Dava pra ver até lá na USP. Podia ficar vários minutos apreciando a paisagem. Hoje se você olhar aqui só verá os luminosos das lojas e janelas de prédios do outro lado da rua. É o mais longe que se vê”.

Daqui ninguém sai

Danilo Santana Reis, oito anos de Diederichsen. Veio de Salvador, Bahia direto para seu apartamento. Desde então faz a vida aqui na cidade. Diz que não pretende sair tão cedo do prédio, diz que pretende morar e trabalhar lá “até quando Deus permitir”. Trabalha como porteiro desde que chegou. Complementa a vida com serviços de eletricista. Como diria o velho jargão de rodeio, “não leva a vida que ama, mas ama a vida que leva”.
Ele tem motivos. Apesar de localizado no centro territorial e comercial da cidade, o interior do edifício é muito sossegado. “Aqui nunca se ouviu falar de roubo, briga ou qualquer coisa de ruim. É um lugar tão bom que quem chega para morar aqui não quer sair”.

Bruno Gallucci – filho de Giuliano Gallucci (fundador do “Grande Hotel”) – morou no prédio com seu pai de 1937 até 1953. Daquela época, Bruno só guarda boas lembranças. Veio da Itália com seus pais, aonde nasceu, após breve volta de seu pai à terra natal depois da vida feita.
Apesar de italiano, seu pai tinha um amor pela nossa pátria varonil que poucos tem. Foi a pátria que o acolheu no final do século XIX. Veio para cá sozinho e esta pátria o ajudou a crescer e se tornar um dos maiores empreendedores do ramo hoteleiro do Brasil na primeira metade do século XX.

Bruno guarda relíquias. Jóias inestimáveis. Uma delas é a série de cardápios do restaurante do hotel que seu pai formulou na década de 1930. Nas capas, fotos das belezas naturais do Brasil. Relíquias pouco apreciadas nos dias de hoje.
Bruno seguiu a vida de bancário e empresário no ramo de produção de eventos junto de seu filho Élio. Os dois foram os produtores da estrutura de som utilizada na “Diretas Já” carioca e paulista (aquela que parte da mídia noticiou como “Festa de aniversário da cidade São Paulo”).

Esse edifício tem história…

Infraestrutura e restauração

Desgaste histórico

Declarado “Bem Cultural” em 01 de setembro de 2005 no Diário Oficial do Estado de São Paulo, o Edifício Diederichsen passa agora por um estudo liderado pelo arquiteto e urbanista especializado em patrimÿnios históricos Cláudio Baúso.

O estudo tem como objetivo realizar a restauração do prédio e, na medida do possível, torná-lo mais fiel ao visual pertencente ao edifício à época de sua inauguração em 1937. “A prioridade da restauração é na parte exterior, a que dialoga com a cidade” diz Baúso.

Além da restauração, o líder do projeto diz que serão feitas mudanças para garantir a acessibilidade aos deficientes, visto que, na época da construção, não existiam tais exigências.
Na parte elétrica, Cláudio diz que não é um problema a ser resolvido. “As ligações elétricas e telefônicas aqui do prédio são bem precárias. Hoje em dia com as novas tecnologias, acabou se fazendo um amontoado de gambiarras. Se fôssemos mexer nessa parte, o preço do projeto dobraria”.

Para se ter ideia, a fiação antiga do prédio (que não é mais usada), tinha a parte elétrica coberta por chumbo, para que não houvesse interferência eletromagnética nas ligações telefônicas. Um metro desse tipo de encape de chumbo pesa, no mínimo, 20 vezes mais que a metragem de fio dos sistemas atuais. “Mesmo assim não há problemas, o prédio foi projetado para suportar esse peso” lembra o arquiteto.
Outra parte a ser renovada são os três elevadores (dois presentes na entrada da Álvares Cabral e um na entrada da São Sebastião). Cada um custará 60 mil. Além deles serão colocadas novas peças de mármore nas escadas que dão acesso ao primeiro andar na entrada da Álvares. Originalmente, cada peça tinha 3 cm de espessura. Com o tempo, e o desgaste causado pelo trânsito de pessoas ao longo de 75 anos, cada peça hoje tem no máximo 1 cm de espessura. O desgaste, segundo Cláudio Baúso, acontece pelo fato do mármore ser uma pedra porosa, que perde partes conforme o atrito.

Esquina da história

Sem choro nem vela e, muito menos jabá, a Única, na esquina da Álvares Cabral com a São Sebastião tornou-se,  ponto obrigatório para se discutir a história de Ribeirão Preto. Sem distinção de classes, o local tem uma “aura” de história. Recebe do mais alto executivo ao vendedor ambulante.

Não há censura para assuntos. Do “Come-Fogo” ao “San-São”; do acidente de carro ao crime bárbaro que enxurrou os noticiários do país. Nas manhãs do local já se discutiram o Bandido da Luz Vermelha, o comício de Getúlio Vargas, o sequestro de Silvio Santos, os incêndios do Joelma e do Andraus. Além do respeito pelas pessoas que nunca é o mesmo de antigamente.

Pudim de Pão: 3 em 1

 Posted by at 8:34 pm  Sem categoria
jan 282010
 

(publicada originalmente na edição 10 – setembro de 2009 – primeira quinzena)

Pudim é coisa de vó. Pelo menos, na minha família. E aposto que dá pano pra manga discutir qual pudim da avó de quem é o mais gostoso, o mais tradicional. Mas acontece que não tem como ganhar essa discussão, justamente porque cada um tem uma preferência, um gosto que foi sendo formado ao longo da infância, durante almoços de família e encontros de final de semana.

Então, para fazer esta receita, a primeira coisa que fiz foi… ligar para minha avó. E ela me passou sua receita de pudim de… pom. Sim: pom. Porque, como boa descendente de italianos, ela não faz macarrão: faz macarrom. E ainda com aquele “r” tremido no céu da boca e com aquele biquinho que coloca um sorriso instantâneo na boca dos privilegiados que a conhecem. Aliás, quando contei para ela que um amigo havia sugerido começar a coluna falando sobre esse jeito gostoso que ela tem de falar, ela disse: “Ai, que cachorrom…”, e caiu na risada. “Corujices” à parte, vamos à receita.

Pudim de Pom da Vó Laura

3 ½ xícaras de pão amanhecido picado
1 ½ xícara de leite
2 ovos
4 colheres (sopa) de açúcar
canela em pó
4 colheres (sopa) de farinha de trigo
1 colher (sopa) de fermento em pó
2 colheres (sopa) de queijo parmesão ralado

Misture o pão picado e o leite em uma tigela e deixe amolecer. Junte os ovos, o açúcar, a farinha de trigo e o parmesão, e misture bem. Tempere com a canela em pó, e coloque por último o fermento. Coloque a massa em uma fôrma untada com manteiga e enfarinhada, e leve para assar a 180°C por 30 a 35 minutos.

Partamos do princípio de que existem tantos tipos de pudim de pão e tantas variações da receita quantas famílias italianas nas quais as avós falam “pom”. Assim, você também pode se aventurar e mexer e remexer na receita a seu bel-prazer. Prove novos sabores, misturando à massa uvas passas, ameixa seca, maçã, banana, nozes, coco ralado, essência de baunilha, etc; ou substituindo parte do leite integral por leite de coco. Se preferir, ao invés de colocar canela na massa, faça uma mistura de açúcar e canela para peneirar por cima do pudim antes de servir. Ou faça os dois!
Abaixo estão mais 2 receitas que testei, baseadas na da Vó Laura.
E aí? Qual vai ser nesse final de semana?

Pudim de pão cremoso

Faça a receita exatamente como descrito acima (inclusive o modo de preparo), mudando apenas a quantidade de pão para 3 xícaras, e de leite para 3 xícaras também.
Com esta receita, você pode também fazer o seguinte: em uma fôrma untada com manteiga, coloque uma calda de açúcar (tipo calda para pudim), e arrume rodelas de banana sobre essa calda. Despeje a massa sobre essa calda, asse em forno à 180°C, e confira o resultado depois de desenformar.

Pudim de pão em calda

1 ½ xícara de pão picado
2 ½ xícaras de leite
3 ovos
3 colheres (sopa) de açúcar

Deixe o pão amolecer no leite por alguns minutos, junte os ovos e o açúcar, e coloque a massa em uma fôrma para pudim, já com a calda de açúcar no fundo. Asse em banho-maria e desenforme depois de frio.

Geléia de casca de manga

 Posted by at 8:23 pm  Sem categoria
jan 282010
 

(publicada originalmente na edição 8 – julho de 2009 – segunda quinzena)

É domingo de manhã. Você acorda e resolve que, a partir de agora, vai ser mais saudável. Não que você vá sair por aí comendo tofu a torto e a direito, mas aumentar a quantidade de frutas em seu cardápio não deve ser tão difícil. Aí, você vai para a cozinha e decide começar o dia com um belo suco natural. E quem te olha da fruteira? Aquela manga, que há uma semana descansa em paz entre duas ou três laranjas.
“De hoje ela não passa”, você pensa. E, antes de sair para comprar os ingredientes do churrasco (afinal, dieta se começa na segunda… e essa reuniãozinha já estava marcada há muito tempo, também!), ela vai para o liquidificador e se transforma em um suco bem do gostoso!
Mas e aí? Casca pro lixo? De jeito nenhum! Casca pra panela!

Geléia de casca de manga com erva-doce:

2 xícaras de casca de manga picada
1 saquinho de chá de erva-doce
1 litro de água
¼ xíc. de açúcar

Pique a casca em tirinhas e leve ao fogo com a água e o saquinho de chá. Deixe ferver por aproximadamente 30 minutos. Se a manga estiver mais madura que a da foto, será por menos tempo. Quando a casca estiver bem macia, retire o saquinho de chá, leve o restante ao liquidificador e bata bem. Volte esse purê à panela e cozinhe com o açúcar até atingir o ponto de geléia (deve ser apenas por mais alguns minutos).

Sugiro usar o saquinho de erva-doce pois nem todo mundo gosta de morder aquelas sementinhas, mas se você gostar, pode retirá-lo apenas para bater no liquidificador, depois abrir o saquinho e colocar a erva-doce no purê já batido.
Outra idéia é ferver o caroço junto com a casca, no começo da receita. Isso vai acentuar o sabor de manga. E quanto mais madura ela estiver, menos açúcar você vai precisar usar, então vá colocando aos poucos.

Essa receita é rápida, em no máximo 40 minutos você tem sua geléia prontinha. E se você não for fazê-la logo que descascar a manga, pode congelar a casca e usá-la quando quiser.
Isso é importante: não se esqueça de lavar bem a manga antes de descascá-la!

Essa geléia fica deliciosa para ser comida normalmente, como geléia mesmo. E, se você não contar, ninguém vai saber que foi feita com a casca, principalmente se ela estiver bem madurinha. Se não estiver, também não parece geléia de casca: parece que foi feito com manga verde. Mas o legal é contar, mesmo!
Agora, tente isso: misture algumas gotinhas de vinagre ou suco de limão, e… lembra daquele churrasco? Pois é: pegue um pedacinho de carne bem temperada, ou de uma linguiça apimentada, e coloque um pouquinho dessa geléia em cima. Hum… você vai começar a ver geléias com outros olhos!