(publicada originalmente na edição 9 – agosto de 2009 – primeira quinzena)
Recentemente tivemos a queda da obrigatoriedade de um diploma de jornalismo para exercer a profissão (como na França, Alemanha, Estados Unidos, Japão, etc.). Alguns jornalistas e estudantes do jornalismo organizaram protestos, pintaram a cara e colocaram nariz de palhaço e foram para as ruas, se auto nomearam palhaços. Tudo bem, todos temos liberdade de expressão.
Algumas questões: (1) A não obrigatoriedade do diploma causaria um desastre literário e queda na qualidade e confiabilidade das noticias? (2) A não obrigatoriedade do diploma desqualifica quem tem diploma, assim ter um diploma não serve mais para nada?
Nós psicanalistas convivemos com rumores de um questionamento bem parecido: Regulamentar ou não o profissional psicanalista? Sobre isso, no meu blog, temos alguns textos que podem ajudar. O que pessoalmente acredito, no caso da psicanálise, é que a nossa área ganha muito ao ter, em seu exercício, profissionais das mais diversas formações (filósofos, biólogos, psicólogos, médicos, jornalistas, etc.) que contribuem com diferentes pontos de vista, adequados ou não.
De fato, tal não regulamentação do exercício permite que um “fulano de tal”, sem a mínima formação, abra um consultório, com uma placa luminosa “Psicanalista Aqui” e exerça a profissão. Sem problemas. Acredito que o “fulano de tal”, desistirá na primeira semana, pois a clínica psicanalítica não se sustenta sem formação sólida e continuada, análise pessoal e supervisão de casos clínicos. Ou seja, a formação é necessária e fundamental para o exercício, e não apenas um certificado, um diploma na parede (vemos psicólogos recém formados, com o número de CRP, que pregam o diploma na parede, e depois de algum tempo percebem que precisam aprofundar-se numa formação especifica, pois não sustentam a atividade clinica.)
Mesmo não sendo regulamentada por órgãos federais ou estaduais, a psicanálise é conhecida mundialmente por seu rigor e confiabilidade. As próprias sociedades, núcleos, grupos etc. se encarregam da formação que, a meu ver, é feita artesanalmente, com um alto grau de pessoalidade e amparo. Não há faculdade de psicanálise que vomite 40 psicanalistas por ano no mercado de trabalho.
Quanto à questão acima numerada como (2), penso que o diploma nunca valeu nada. O que vale é a qualificação que o sujeito obteve no tempo em que esteve no curso. Por isso, uma pessoa formada em uma faculdade não tão bem conceituada pode ser um profissional melhor preparado que outro profissional formado em uma faculdade nota 10.
O que percebo é que os jornalistas, naturalmente, têm medo. Como se pensassem: “Nossa, agora alguém vai roubar meu emprego”; “qualquer um pode roubar meu emprego”, “as filas para emprego de jornalistas vão se encher de médicos, psicólogos, engenheiros etc.”
Ouvi uma manifestante, com nariz de palhaço, dizendo: “E eu? Que pago mil reais de uma faculdade de jornalismo? Meu diploma não vai valer nada?”. Para essa manifestante, sugiro que volte ao primário, pois parece que não conseguiu entender do que se trata.
Um diploma não garante nada. Consiste numa ilusão de que uma entidade toda poderosa consegue fiscalizar, organizar e garantir 100% alguma prática humana. O jornalismo está livre agora de pessoas que compram um diploma, e passa a dar espaço para outras pessoas com vocação e necessidade de se expressar. Obviamente, o curso de jornalismo continuará sendo concorrido, essencial e fascinante; e uma sólida formação valerá muito mais do que antes.
Luis Fernando S. de Souza Pinto é biólogo, psicanalista e faz parte do Grupo Verde (grupo de divulgação e popularização da ciência).
email: luisfernandossp@gmail.com / blog: www.sinapseoculta.blogspot.com